Foto: Gabriela Perufo (Diário)
Os réus: Edelvânia (na fila da frente, de cabeça baixa), Evandro (na fila do meio, de camisa branca e braços cruzados), Leandro (na última fila, de branco) e Graciele (na última fila, de casaco marrom)
Um dos crimes que mais chocaram a população gaúcha pelo grau de crueldade e proximidade entre vítima e acusados deve ter seu desfecho nesta sexta-feira. Cinco anos após a morte de Bernardo Boldrini, na época com 11 anos, os quatro acusados de sua morte devem ouvir a sentença proferida pela juíza Sucilene, que preside o júri no Fórum de Três Passos.
A sessão deve começar às 10h e tem previsão de encerramento no final da tarde. Pela manhã, o Ministério Público terá tempo para a réplica da acusação dos réus, que pode durar até duas horas. Um dos três promotores do caso, Ederson Vieira, adiantou, em sua fala na noite de quinta, que terá réplica porque o MP tem mais provas a mostrar aos jurados.
Depois, as defesas dos réus terão tempo de 2 horas para dividir entre os quatro, meia hora para cada um, para a tréplica, e o debate chega ao fim. É a partir deste momento que os jurados se reúnem, a portas fechadas, e respondem questionário que leva a decisão se os quatro réus - o pai de Bernardo, Leandro Boldrini, a madrasta Graciele Uguline, a amiga da madrasta Edelvânia Wirganovicz, e o irmão de Edelvânia, Evandro Wirganovicz são inocentes ou culpados da acusação de homicídio e ocultação de cadáver de Bernardo.
O júri, transmitido ao vivo, é o primeiro integralmente televisionado no Estado e também é o maior em termos de duração, cinco dias. Ontem, três réus - Graciele, Edelvânia e Evandro - foram interrogados. Depois acusação e defesa iniciaram o debate. Na quinta-feira, a sessão de júri durou cerca de 15 horas.
OS RÉUS E O QUE ELES FALARAM
O médico Leandro Boldrini, pai de Bernardo, depôs na tarde de quarta-feira. Ele foi o primeiro dos réus a dar a sua versão do crime. Negou veementemente que soubesse que a madrasta tinha planos de matar Bernardo e que não sabia do fato depois que ela ocultou o cadáver do garoto (Bernardo foi morto dia 4 de abril de 2014 e seu corpo foi encontrado 10 dias depois).
Afirmou que era um pai presente e reconheceu que os problemas de relacionamento como filho começaram a acontecer após seu casamento com Graciele. Veja aqui o que ele disse.
Ele foi o único réu que respondeu, parcialmente, às perguntas da acusação
Graciele Ugulini, madrasta de Bernardo, depôs na manhã de quinta-feira. Chorando muito, ela assumiu que matou Bernardo, mas que a morte foi acidental pela ingestão de um dosagem alta de medicamentos dado ao garoto para que dormisse e se acalmasse durante uma viagem. Ela afirmou que o ex-marido, o médico Leandro Boldrini, nunca soube do crime e que nunca ameaçou ou pagou a amiga, Edelvânia, para lhe ajuda a ocultar o corpo do menino.
A defesa de Graciele não permitiu que ela fosse interrogada pelos promotores do MP, responsáveis pela acusação.
Foto: reprodução site do TJ
Depois de Graciele, depôs e da amiga dela, Edelvânia Wirganovicz. Ela contou que não houve planejamento da morte por parte da madrasta. Mas que, ao constatar que o menino estava morto, ela insistiu para ele ser levado ao hospital e que Graciele afirmou que não adiantaria.
- Eu disse: então, vamos na delegacia. Ela disse: 'tu quer ir na delegacia, vamos. Mas vai sobrar tudo pra ti, porque tu é pobre' - contou Edelvânia, chorando e relatando que Graciele -ameaçou matá-la se ela contasse à polícia.
Ao final do interrogatório pela magistrada, Edelvânia caiu da cadeira no momento em que ia começar a ser ouvida pelo Ministério Público (MP), responsável pela acusação. A sessão foi suspensa para o almoço e retornou às 14h. No retorno, Edelvânia permaneceu no salão do júri, mas não respondeu mais perguntas. Nem mesmo as elaboradas pela acusação.
Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvânia, foi o terceiro a depor, na quinta-feira. Ele contou que, no dia do crime, havia ido pescar, próximo da casa de sua mãe, em Frederico Westphalen. Ele negou que tenha qualquer tipo de participação na morte do menino. Evandro é acusado de ter cavado a cova onde Bernardo foi encontrado 10 dias depois de desaparecer.
- Não é que eu negue, mas eu não fiz nada. Como vou negar o que não fiz? - questionou o réu à juíza Sucilene Engler Werle.
Ele não quis responder ao Ministério Público e, logo após, os questionamentos da defesa, o depoimento foi encerrado.
O QUE SUSTENTA A ACUSAÇÃO
Por volta das 15h30min de quinta-feira, a sessão foi retomada para o debate entre acusação e defesa. O Ministério Público teve quatro horas para expor seus argumentos contra os quatro réus. Durante as considerações, os três promotores, Bruno Bonamente, Silvia Jappe e Ederson Vieira, reforçaram os argumentos de que Boldrini era omisso em relação aos cuidados com Bernardo e que arquitetou, junto à Graciele, Edelvânia e Evandro, o assassinato do menino.
Foram mostrados vídeos do primeiro depoimento de Edelvânia à Polícia Civil, onde ela confessa o crime, além de notas fiscais da compra de soda cáustica - apontada pela perícia como tendo sido jogada sobre o corpo de Bernardo -, imagens de câmeras de monitoramento da loja de eletrodomésticos onde Graciele comprou a TV e, ainda, as fotos da perícia médica feita em Bernardo.
Os três promotores pediram a condenação dos quatro réus pelos crimes que são denunciados. Eles começaram a apresentar provas e argumentos contrariando versões relatadas pelos quatro em suas defesas. No começo da fala, os promotores afirmaram que os réus tentaram desconstruir o caráter de Bernardo e fazer a imagem dele como uma criança esquizofrênica. Os promotores defenderam que Leandro e Graciele começaram a planejar a morte de Bernardo depois que o menino procurou o juiz para relatar "indiferença" da família.
Promotores exibiram o vídeo de depoimento de Edelvânia, o mesmo que seria exibido antes de ela passar mal, e rebatem fala dela sobre ser coagida pela Polícia Civil de falar o que mandaram. Em um momento, os promotores exibiram aos jurados as fotos do corpo de Bernardo morto. Boldrini deixou o salão neste momento, assim como alguns jurados. Algumas pessoas da plateia se comoveram e choraram ao ver as imagens. Para acusação, Boldrini, Graciele e Edelvânia são psicopatas, exceto Evandro, que teria cometido o crime por dinheiro.
O QUE SUSTENTAM AS DEFESAS
Vanderlei Pompeu de Mattos, que defende Graciele, sustentou que sua cliente é ré confessa, mas que não deve ser responsabilizada totalmente por seus atos. Isso, devido à sua "tendência suicida". Segundo o advogado, ela teria sido internada "diversas vezes" por conta de sua condição psiquiátrica. Ele ainda criticou a Polícia Civil, que no seu entendimento "buscava holofotes", além do Ministério Público, que não teria todas as provas necessárias para sustentar as qualificadoras apontadas. Por exemplo, "por motivo torpe", já que não haveria como comprovar que Graciele pagou R$ 6 mil a Edelvânia para comprar soda cáustica - material usado para ocultar o cadáver de Bernardo.
Jean Severo, um dos advogados de Edelvânia Wirganovicz, rasgou papel, que seria denúncia, na frente da sua cliente, e chamou o documento de "arma". Ele fez ela se levantar e falar aos pedindo desculpas. Chorando, a ré disse com a mão no peito: "eu errei". No entendimento de Severo, há omissão no processo. Afirma que ela não assassinou Bernardo, mas ajudou a ocultar o cadáver. Ele pede a absolvição tanto dela quanto de irmão, Evandro.
Já o advogado de Evandro Wirganovicz, Luiz Geraldo Gomes dos Santos, é o último a falar na noite desta quinta-feira. Ele diz que no processo houve promotores equivocados, dando a entender que haveria problemas na acusação feita pelo Ministério Público. Afirma que não haveria motivação para o crime. O Ministério Público aponta que seria para ajudar financeiramente a irmã, mas Santos diz que "não tem nada disso". No seu entendimento, o Ministério Público precisaria provar que Evandro sabia que Bernardo seria morto, o que não seria possível. Para o Ministério Público, Evandro teria cavado a cova de Bernardo. O advogado, em contrapartida, diz que seu cliente levou o carro até as proximidades do local onde o cadáver de Bernardo foi encontrado, mas quem tinha marcas nas mãos que sugeririam o uso de ferramenta para cavar era sua irmã. Ela afirma que cavou o buraco sozinha. Ainda, que as escutas que constam no processo não tem o registro de Evandro falando com Edelvânia. Santos reproduziu uma gravação que contradiz a versão do Ministério Público de que Evandro não estava em férias. O arquivo de áudio sugere que ele estava em férias.
COBERTURA AO VIVO
O Diário acompanha o julgamento AO VIVO. Abaixo, os principais momentos do júri desde a segunda-feira